Existe uma palestra que eu ministro e da qual gosto muito, que apesar de americanizada, tem contribuído muito na recuperação dos dependentes, como também na prevenção da recaída. Não é de minha autoria, mas vou repassá-la aqui em forma de artigo, acreditando ser mais uma ferramenta de que se possa lançar mão quando necessário.
Em linhas gerais, ela sugere que se criem gírias também para o processo de recuperação, tendo em vista a quantidade das mesmas usadas pelos dependentes enquanto estão na “ativa”.
Esse método na verdade já é muito bem utilizado, principalmente pelos grupos de auto-ajuda como, por exemplo, a frase tão conhecida, marcante e eficaz: “Só por hoje”, que sugere ao alcoolista ou ao adicto que renove um compromisso consigo mesmo de não beber ou se drogar por um período de vinte e quatro horas, vivendo um dia de cada vez, abstêmio e sóbrio. Ou, se preferir, “limpo”, outra gíria utilizada também com muita freqüência.
Tal palestra, então, propõe um novo termo, ou melhor, uma nova gíria que venha reforçar mais alguns cuidados necessários que se devem tomar, para que se tenha uma boa qualidade de vida e como conseqüência uma firme e consistente recuperação.
Sabe-se que o cansaço, a solidão, a raiva e a fome são estados, sentimentos e situações inevitáveis, com os quais o dependente, quando na ativa, lidava de uma única forma: drogando-se. Quando cansado, bebia para relaxar ou então cheirava para “ficar ligado” e não se abater. Aliviava sua solidão buscando a companhia das drogas. A raiva, dependendo da pessoa, era abafada ou então manifestada de forma inadequada e/ou agressiva.
Já a fome, quando surgia, guardava características compulsivas denominada “larica”, como muitos conhecem. Esta se manifestava quando passava o efeito das drogas, mais especificamente da maconha. O alcoolista por sua vez, procurava alimentos gordurosos, fortes e de preferência muito condimentados para acompanhar a bebida: os famosos “tira-gostos”. Enfim, não existia cuidado e nenhuma qualidade no valor nutricional da alimentação e muito menos a tentativa de lidar de forma saudável e adequada com os sentimentos desconfortáveis manifestados.
Sendo assim, esses quatro estados eram suposta ou ilusoriamente “resolvidos” de uma forma distorcida e inadequada, sem a menor preocupação em obter uma melhora na qualidade de vida.
Por isso, é sugerido ao dependente em recuperação, principalmente aos mais novos na caminhada, que procurem evitar que tais situações cheguem ao extremo ou que ultrapassem seus limites em suportá-las, para que não recorram aos seus “arquivos” de resolução dos problemas ou situações já tão bem condicionados e conhecidos na época da “ativa”, ou seja, drogando-se.
E é exatamente aí que se utiliza a gíria sugerida e criada para o processo de recuperação:
Na verdade, H.A.L.T. é um acróstico, em que:
H é o início da palavra Hunger (fome, em inglês)
A é primeira letra de Anger (Ira, em inglês)
L é o início de Loneliness (Solidão, em inglês)
T, de Tired (cansaço, em inglês)
Quando existe a percepção da própria pessoa de que está vivenciando estes sentimentos e estados de uma forma intensa e principalmente desorganizada, é momento de parar, pensar e reavaliar se está fragilizando sua recuperação e recaindo em sua qualidade de vida.
Portanto, ouvir ou falar dê um H.A.L.T., apesar de não existir um sinônimo em nossa língua, significa simbolicamente: “DÊ UM TEMPO!” ou: “PRESTE ATENÇÃO!” ou ainda: “SE LIGA!” na sua fome, na sua raiva, na sua solidão e/ou no seu cansaço.
É preciso lidar com os mesmos de um forma nova, adequada e saudável. E não mais como estava acostumado. O momento agora é de agir, pensar e falar de um jeito novo, de um jeito de quem está em recuperação.
Portanto, dê um H.A.L.T. para a fome, a raiva, a solidão e o cansaço!
Marília Teixeira Martins