Em 1943 Antoine de Saint-Exupéry lançou um de seus livros de maior sucesso : o encantador “O Pequeno Príncipe”, lido e relido por várias gerações, desde os pequeninos até os adultos, que não cansam de repetir frases muito bem construídas e sábias como:
“ Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.” Ou “ Tu te tornas eternamente responsável por aquilo o que cativas.” Ou ainda: A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar.”
Frases e mensagens como estas continuam trazendo valiosas reflexões de vida, importantes e necessárias para a evolução de cada um de nós.
Tenho uma edição deste livro bem antiga e vez por outra me abasteço em suas palavras e, há poucos dias fui mais uma vez relê-lo e, a cada passagem do livro algo de novo me chama a atenção e que eu não havia percebido anteriormente. Talvez em função de minha maturidade ou até mesmo pelo momento que estou vivendo. Para mim é um livro mágico, que nos traz sabedoria a cada vez que nos aproximamos dele, ainda que repetidas vezes.
Desta vez, a passagem que me chamou a atenção foi o diálogo do principezinho com o bêbado. Percebi também que esta passagem é pouco evidenciada nos meios de comunicação, como aquelas já citadas por mim no início deste artigo.
Resolvi então escrever algo sobre isto associando-o ao tema da Dependência Química.
Transcrevo abaixo o trecho ao qual me refiro e logo após faço alguns breves comentários.
“O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi muito curta, mas deixou o principezinho mergulhado numa profunda tristeza.
– Que fazes aí? – perguntou ele ao bêbado, que se encontrava silenciosamente acomodado diante de inúmeras garrafas vazias e diversas garrafas cheias.
– Eu bebo – Respondeu o bêbado, com ar triste.
– Por que bebes? – perguntou-lhe o pequeno príncipe.
– Para esquecer – respondeu o beberrão.
– Esquecer o quê? – indagou o principezinho, que já começava a sentir pena dele.
– Esquecer que eu tenho vergonha – confessou o bêbado, baixando a cabeça.
– Vergonha de quê? – perguntou o príncipe, que desejava socorrê-lo.
– Vergonha de beber! – concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio.
E o pequeno príncipe foi-se embora, perplexo.
“As pessoas grandes são decididamente estranhas, muito estranhas”, dizia para si mesmo durante a viagem.
Este livro foi publicado no ano de 1943 e a dependência química foi mundialmente reconhecida como doença em 1956 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ou seja, 13 anos após a publicação do livro.
O que Antoine de Saint-Exupéry , o principezinho e o bêbado não sabiam é que o beber compulsivo era e é uma doença. O bêbado desta história deixou claro que sentia vergonha, possivelmente por beber tanto e não conseguir se libertar.
E, estando em um estágio já bem avançado não conseguia agir diferente, pois havia perdido a sua capacidade de escolha. O álcool já escolhia por ele.
Provavelmente, carregava também uma enorme culpa que só o fazia repetir o mesmo erro, tal a força e o desconforto que este sentimento causa e traz. Ele bebia, sentia vergonha, sentia culpa e em função disso bebia mais e mais, permanecendo neste ciclo. Sozinho no planeta, não tinha força para sair desse movimento repetitivo e muito menos buscar ajuda e uma solução diferente.
Se no atual tratamento da dependência química é necessária uma equipe multidisciplinar para que haja uma boa conscientização e a partir daí a possibilidade real da recuperação, como o bêbado iria conseguir se libertar vivendo sozinho?
Será que ele vivia mesmo em um planeta distante ou o seu alcoolismo se encarregou de distanciá-lo das pessoas e do mundo?
Normalmente o dependente químico enquanto ativo nas drogas, manifesta sentimentos que não correspondem aos sentimentos latentes de vergonha e culpa. Muitos deles expressam revolta e raiva, mas internamente estão carregados de sentimentos difusos e não resolvidos.
Infelizmente, Antoine de Saint-Exupéry morreu em um acidente de avião, no ano de 1944, 12 anos antes do alcoolismo ser reconhecido como doença e ainda, com poucas referências científicas para o seu tratamento.
Quem sabe se ele tivesse vivido uma década e meia a mais, a passagem do diálogo de seu pequeno príncipe com o bêbado, teria um desfecho diferente?
Quem sabe o bêbado não teria a chance de conhecer a recuperação?
Marília Teixeira Martins
Parabéns pelo seu trabalho, eu amo este livro ?.
Adorei lê a sua biografia sua história de amor e dedicação as pessoas frágil que sofrem desses vícios.
Que você possa continuar salvando vidas.
Sucesso e um feliz e abençoado Ano Novo.
Abraços ?
Ei Valdira, que delícia ler esta sua mensagem! Foi um presente que recebi neste início de ano. Muito obrigada. Este trabalho não teria sentido para mim se eu não pudesse ajudar as pessoas. Escrevo e compartilho tudo com muito cuidado e carinho. Um grande abraço e um Feliz 2019 para você e todos os seus!