Joãozinho nasceu em uma família de pouquíssimos recursos financeiros, e já em seus primeiros anos escolares precisou trabalhar para ajudar seus pais a manterem a casa.
Estudou com muita dificuldade, mas com sua precoce responsabilidade, conseguiu concluir os ensinos fundamental e médio.
À medida que foi crescendo as oportunidades de emprego surgiam com maior frequência e as propostas salariais melhoravam a cada dia. Com o salário que recebia continuava ajudando seus pais nas despesas de uma simples casa.
Um dia seus pais “adormeceram” repentinamente e Joãozinho teve que virar João, de uma hora para outra, prosseguindo sua caminhada, porém sozinho. Trabalhava de 8 às 18 horas e, à noite cursava a faculdade de Administrador de empresas. Seu grande sonho era se tornar um empresário de sucesso.
Assim que se formou, João conseguiu um excelente emprego e seu salário atendia todas as suas necessidades, conseguindo até economizar seu pagamento para aplicar e depositar, fielmente todos os meses em uma caderneta poupança.
João se apaixonou, namorou, amou e se casou, recebendo deste casamento 2 filhos muito saudáveis. Era um pai carinhoso, extremamente generoso, trabalhador, um marido fiel, dedicado à sua esposa e família. Não deixava faltar nada em casa.
Seus filhos estudavam nos melhores colégios, andavam com as melhores roupas, recebiam uma farta alimentação e frequentam lugares de alto luxo. Saíam, se divertiam e viajavam pelos mais belos países do mundo. E João prosseguia realizando todos os desejos daqueles filhos, desde a infância até a idade adulta.
Mas, ele mesmo nem saía, não se divertia e muito menos viajava.
João trabalha incansavelmente e seguia “amando demais” aquela família.
Vez por outra enfrentava alguma dificuldade financeira, física e emocional, mas, as ocultava de todos. Vivenciava tudo sozinho e, como ele mesmo dizia: “Não queria preocupa-los”.
Sua esposa Maria também trabalhava, mas João não a deixava ajudá-lo nas despesas da casa. O salário que ela recebia era apenas para que Maria fizesse o que quiser, assim pensava João.
Seus filhos cresceram e se formaram, cada qual na profissão que escolhera. Mesmo assim, João continuava a mantê-los, para que nada lhes faltasse.
Com o passar do tempo João foi perdendo seu vigor e seguia envelhecendo a cada dia. E, sem perceber já era o “velho Sr. João”.
Recebia uma boa aposentadoria e com ela continuava proporcionando à família uma vida confortável, afinal não queria que os filhos passassem por tudo o que ele passou quando ainda era Joãozinho e depois João.
O mais estranho é que em nenhum momento mostrava sentir aquela boa e gostosa sensação de dever cumprido. Em seu entender ele ainda não havia feito o suficiente para a família que ele “amava demais”. Amava tanto que, quando não podia atender a algum pedido dos filhos, se angustiava e sofria. Não gostava de frustrá-los e muito menos frustrar sua esposa Maria. Como sempre, sofria calado em um profundo e solitário silêncio, afinal sua missão ainda não havia terminado, assim pensava e dizia.
Os filhos permaneciam na dependência do pai, acreditando que tudo o que foi oferecido pelo bondoso Sr. João era apenas um direito que lhes pertenciam. Gratidão não existia em seus corações.
É… Infelizmente em todo o seu percurso de vida Sr. João não percebeu que por “amar demais” cometeu inúmeros erros na educação dos filhos: os chamados “erros de amor”.
Errou por não acreditar e pensar que os filhos, nesta situação de dependência, cresceriam fracos e incapazes de conduzir suas próprias vidas. Com tantas facilidades e gratificações proporcionadas a eles, não deu espaço para que os dois aprendessem a vivenciar e lidar nem mesmo com as pequenas frustrações normais do dia a dia.
Pessoas que amam desta forma, “AMAM DEMAIS” e, ao invés de ajudar o outro, prejudicam seu crescimento e desenvolvimento. Cometem um grande erro e vivem uma grande ilusão de controle, impedindo filhos, mães, pais, namorados, maridos, esposas, dependentes químicos e até a si próprios em alcançar maturidade e o direito à liberdade de escolha.
Sr. João “amou demais” os outros e “amou pouco demais” a si mesmo. Sacrificou-se e alimentou a ideia de que a família continuaria unida e feliz. Seu amor, ainda que muito digno, vedou seus olhos, vedou os olhos de seus filhos e de sua esposa. Ocultou dificuldades e impediu todos e a ele mesmo de tomar posse e enfrentar suas próprias vidas.
Um dia, assim como seus pais, Sr. João “adormeceu”. Como os filhos enfrentam suas vidas hoje eu não sei, mas isto é assunto para outra história!